Por que ainda não aprendemos a conviver com as diferenças? Medo? Ausência de amor?
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Meu pai era assim, resolvia comigo as minhas dores. Era preciso sentar ao lado dele para que pudéssemos descobrir juntos o desfecho. Ele não ridicularizava a minha dor. Era uma brincadeira do professor, apenas. Mas não importava. Se eu estava sofrendo, era preciso respeitar. E, depois, do alívio, o ensinamento. “Filho, nessas horas a gente aprende que é bobagem fazer a coisa errada.” E mais nada. Um sorriso. Um beijo de boa noite. E mais nada. E do que mais eu precisava naquela noite intranquila? Da segurança de mãos grandes. Meu pai tinha mãos grandes e nós brincávamos de ver quanto faltava para que as minhas mãos superassem as suas. Um dia, as minhas mãos ficaram maiores. No começo, eu as escolhia um pouco para que as suas mãos continuassem sendo as vitoriosas.
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Na rede, ficamos o tempo de um descanso merecido. Ficar a vida na rede enjoa. O balanço agrada um tempo. Muito tempo deprime. Balancemos nosso deitar como a simples espera do levantar.
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Confesso que a desesperança é o caminho mais atraente. Ao me deparar com relatos como esse, minha primeira reação é desesperar. É bem mais simples. Chego à conclusão de que nossos braços são curtos demais para abraçarem o mundo. Podemos muito pouco diante da dor, tanto sofrimento. Mas é no impulso dessa desesperança que eu me recordo de que a Tanzânia também é aqui. Não preciso ir longe.
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Assim como a mãe vacina o filho para imuniza-lo contra uma infinidade de vírus, da mesma forma nós também precisamos ser vacinados contra a maldade que está presente no mundo. A maldade é sedutora.
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Pessoas erram muito porque refletem pouco. Sofrem muito porque não administram, de um jeito certo, as causas que as fazem sofrer. Escolhem errado, amam errado. Tudo porque faltou reflexão.
(Pe. Fábio de Melo)
“Na sala de visitas as crianças se comportavam bem, eram só sorrisos e todos usavam máscaras. Na cozinha era diferente: a gente era a gente mesmo, fogo, fome e alegria.”
(Rubem Alves – Cozinha)
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Não me parece que seja uma atitude de falta de fé, mas sobretudo de inquietação diante da dor de seu povo. A dor nas tragédias tende a nos tornar mais sensíveis, mais reflexivos, mais questionadores.
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Vencer, pisando ou pesando sobre o outro decididamente não é vencer. Devíamos nos envergonhar da trapaça história de tentar subjugar um povo, uma raça, uma nação. A guerra dizimou povos, arruinou sonhos. A violência estrangulou e estrangula amanheceres.
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O que agora estamos vivendo será matéria-prima do futuro. Se escolhemos amar, é bem provável que nosso futuro seja recheado de saudades boas. Mas, se escolhemos negligenciar o amor que podemos oferecer ao outro, é certo que nos restará nas mãos um cesto de arrependimentos e remorsos.
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Diante da tragédia, temos a possibilidade de assumir duas posturas. Podemos nos desesperar, ou podemos nos encher de novos motivos para o recomeço. Este é o código que diferencia um ser humano de todos os outros: a capacidade de recomeçar.
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Quando somos simples no que queremos é mais fácil construir a solução para o que necessitamos. O muito querer nos dispersa, retira o foco do objetivo principal.
(Gabriel Chalita)
É belíssima sua metáfora das tramas das colchas de retalhos. Os contrastes dos tecidos de festa e dos tecidos de morte. É a mistura ritualística do que nos perturba. A morte como fim da vida terrena. A morte de uma relação de amor ou de amizade. A morte como partida para uma nova etapa. Não é à toa que os adolescentes que se despedem em festas de formatura choram a morte daquele período da vida. Os amantes antecipam a dor antes de a dor chegar. A expectativa da morte de um relacionamento faz com que relacionamentos mortos continuem a incomodar. Mas somos assim. Somos assim nas amizades. Teimamos em incomodar e nos permitimos que os incômodos nos façam companhia. E tudo porque desconhecemos o lindo ritual da sinceridade.
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Sem ganhadores nem perdedores. Ceder não é entregar ao outro o troféu da vitória. “Amor não é olhar para o outro. Mas, sim, olhar ambos para uma mesma direção.” (Antoine de Saint-Exupéry)
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Sua rosa era única porque ele a tinha feito assim.
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O amor não se preocupa com detalhes para reparar o imperfeito; ao contrário, utiliza os detalhes para fazer perfeito aquilo que deve ser reparado com cuidado.
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Conto de Hans Christian Andersen > A roupa nova do imperador
O bandido recebeu vários baús cheios de riquezas, rolos de linha de ouro, seda e outros materiais raros e exóticos, exigidos por ele para a confecção das roupas. Ele guardou todos os tesouros e ficou em seu tear, fingindo tecer fios invisíveis, que todas as pessoas alegavam ver, para não parecerem estúpidas.
Até que um dia, o rei se cansou de esperar, e ele e seus ministros quiseram ver o progresso do suposto "alfaiate". Quando o falso tecelão mostrou a mesa de trabalho vazia, o rei exclamou: "Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!", embora não visse nada além de uma simples mesa, pois dizer que nada via seria admitir na frente de seus súditos que não tinha a capacidade necessária para ser rei. Os nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho do bandido, nenhum deles querendo que achassem que era incompetente ou incapaz. O bandido garantiu que as roupas logo estariam completas, e o rei resolveu marcar uma grande parada na cidade para que ele exibisse as vestes especiais. A única pessoa a desmascarar a farsa foi uma criança: "O rei está nu!". O grito é absorvido por todos, o rei se encolhe, suspeitando que a afirmação é verdadeira, mas mantém-se orgulhosamente e continua a procissão.
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“Os nossos pais amam-nos porque somos seus filhos, é um fio inalterável. Nos momentos de sucesso, isso pode parecer irrelevante, mas nas ocasiões de fracasso, oferecem um consolo e uma segurança que não se encontram em qualquer outro lugar.”
(Bertrand Russel)
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É no colo paterno e no colo materno que embalamos as nossas derrotas. É o espaço privilegiado de aconchego. Sem cobrança, nem medo. Sem desafios. Sem máscaras nem maquiagem.
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Durante quase os últimos dias de vida a minha empregada falou sobre a ida ao cinema. Meu Deus, como é simples trazer alegria às pessoas que estão ao nosso lado. É que, às vezes, não reparamos nos seus sonhos. Nunca iria imaginar que Rosa jamais havia ido ao cinema. Talvez a responsável fosse a minha memória de ouvir dela tramas cinematográficas no calor do fogão a lenha.
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“Pelos bancos desses parques ninguém se toca sem perceber
Que onde o sol se esconde o horizonte tenta dizer
Que há sempre um novo dia, a cada dia, em cada ser E dar as mãos, e dar de si, além do próprio gesto
E descobrir feliz que o amor esconde outro universo”
(música de Mariano Pérez – Rosa Girón)
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“Dar de si” sem exigir nada do outro é “descobrir feliz que o amor esconde outro universo”. Sem querer que o outro venha pedir desculpa primeiro, para que eu me sinta um vencedor. Não podemos perder tempo com bobagens. O orgulho é um muro desnecessário. Quantos casais vão dormir sem se falar, um desejoso de que o outro dê o primeiro passo. Quantos amigos perdem tempo com pausas causadas por faíscas na relação. Vizinhos que ficam anos sem conversar porque no calor de algum desejo a razão se perdeu. “A vida é curta demais para ser pequena” (Benjamin Disraelli). Perceber isso exige tocar no coração das pessoas, o que é um exercício cotidiano. Talvez não tenhamos forças, sozinhos, para vencer diante de tantos que não acreditam mais no amor ou na solidariedade. As maldades, as injustiças vão calejando os nossos sentimentos. E isso não é bom. Mas, voltando à “Vida”, de Rosa Girón...
“Talvez quem sabe por esta cidade passe um anjo
E por encanto abra suas asas sobre os homens
E dê vontade de se dar aos outros sem medida
A qualidade de poder viver
Vida, vida.”
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Um ser humano só pode ser verdadeiramente grande se for capaz de tocar o coração das pessoas.
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Nossa cultura compreende o coração como o lugar onde a vida é decidida. Amplio a metáfora. Ousaria dizer que a vida só tem sentido se vivermos para tocar o coração e a mentalidade das pessoas.
(Pe. Fábio de Melo)
Sublime!
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